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Aço & Lona II

Tipo de projeto

Serigrafia - Gravura

Data

Abril de 2024

Local

São Paulo

Medidas

420x594mm, Papel 250gm²
Mancha gráfica: 297x420mm

Edição com tiragem de 7 múltiplos.

AMELOT: Do francês;

Mascate, vendedor ambulante, quinquilharias, bugigangas. Camelô.

São Paulo. Cidade industrial e farol para muitos migrantes na década de 70 abrigou, entre tantos outros, um casal Pernambucano que marca compõe a história e a paisagem da Penha de França, o segundo bairro mais antigo da cidade, joia da zona leste paulistana.

“Gosta de trabalhar na barraca vó?”

Gosta, desgosta, quem é que gosta de trabalhar aos 75 anos?

“Mudaria?”, “ Não fia. ‘Tô’ acostumada com meu trabalho já. Muitos anos né?”.

Pouco, 50 anos mais ou menos. Margarida, Dona Magal. José, Zé do Guarda-Chuva. Orgulhinho sem-vergonha de ser ambulante. Sem vergonha nenhuma. Casa própria, quatro filhas criadas e encaminhadas. Netos, e agora bisneto no forninho.

“Polícia não enche o saco mais hoje não. Antes era pior”.

8h, sai Zé pra Penha, Dona Magal arruma a casa e pega o 2726-10 pra acompanhar. Sem pressa, seu Zé já armou a tenda. Garoando, dia bom. Povo só lembra do guarda-chuva quando chove.

“Vivemos em tempos líquidos. Nada foi feito para durar”. Essa é uma das frases mais famosas do sociólogo polonês Zygmunt Bauman, Nada, nem relações, nem bairros, nem tradições, nem guarda-chuvas.

Magal chega e Seu Zé já estava trabalhando, concentrado com o olho cirúrgico na linha e na agulha. Bauman, você pode consertar seu guarda-chuva pelas mãos do meu avô, ou comprar um novo pelas mãos da minha avó.

Povo vai, povo vem, dinheiro trocado vem e vai. 1 real, “Joga na cabeça avestruz, segunda eu pego.” Dona Magal, Dona Magal, com seu cabelo vermelho e olhos de cristal, quem resiste? Dessa vez vai, não custa tentar.

De segunda à sexta, a mais ou menos 50 anos. Dia vai, povo vem. Dia vem, povo vai. Em uma cidade verticalizada, minimalista, cidade limpa, condomínio fechado. Dona Magal vai, e vem. Orgulhinho sem romance, sem frescura, sem muito papo. Só sem vergonha. Orgulhinho sem vergonha dessa minha família, vô, vó, pai, mãe, tias e tios, do trabalho de calçada.

Orgulhinho desse meu berço de aço, de lona, de muamba.

Orgulhinho sem vergonha de existir, esse nosso.

STUDIO

vila matilde, penha. são paulo - sp. brasil.

© 2024 by JULIA MARECO

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